Ao longo da História, movimentos massivos foram, seguidamente, responsáveis por profundas transformações sociais, pela ampliação dos espaços de cidadania, pela emergência ou fortalecimento de direitos sociais e políticos, pela construção de sociedades mais igualitárias, justas e democráticas. Basta lembrarmos-nos das revoluções sociais dos séculos XIX e XX, como a Francesa e a Russa, que não obstante seus descaminhos posteriores, iniciaram com multidões nas ruas exigindo melhores condições de vida e trabalho, e procurando por fim à opressão política e à exploração econômica. Muitos destes movimentos foram violentamente reprimidos, mas deixaram como herança programas, ideais e projetos de emancipação. Para ficarmos no caso da história brasileira recente, citamos os casos dos movimentos de 68 contra a ditadura civil-militar instalada em 1964, e aqueles que clamavam por Diretas Já no início da década de 80, os quais, diga-se de passagem, foram ou criminalizados ou simplesmente ignorados pelos grandes veículos de comunicação.
Não obstante, muitos movimentos de massa seguiram outros caminhos e tiveram outros resultados. Alguns impulsionaram e serviram de base a movimentos totalitários ou autoritários, como o nazismo, o fascismo e as ditaduras de segurança nacional na América Latina, inclusive no Brasil, seguidamente em nome da moralização da vida política, da oposição aos partidos constituídos, da luta contra a corrupção e a inflação.
Sabemos que a história não se repete e que cada época, apesar de catalisar antigas tradições e processos de longa duração, tem a sua originalidade. Os movimentos que irromperam nas ruas das grandes cidades brasileiras nas últimas semanas guardam a marca da sua época: organizam-se a partir de redes sociais, englobam grupos e projetos muito diversos, conectam-se entre si e com outros congêneres tanto no plano nacional quanto internacional. Suas práticas e reivindicações provocam espanto e não se pode prever o seu desfecho.
A ANPUH-Brasil confia que o efeito destas mobilizações será benéfico para toda a sociedade, em especial para os setores mais despossuídos, possibilitando uma apropriação mais igualitária dos serviços públicos, uma maior politização da juventude, uma gestão menos privatista das cidades e um diálogo mais direto entre sociedade civil e governantes. Por outro lado, repudia a violência contra o patrimônio público e a integridade física e moral de qualquer cidadão; as posturas que atentam contra o Estado democrático de direito e seus instrumentos, como o Parlamento e os partidos políticos; os projetos que, em nome de certo moralismo, põem em xeque o valor da democracia participativa; e a postura dos grandes veículos de comunicação que criminalizam os movimentos sociais ou tentam instrumentalizá-los em prol de projetos conservadores.
Não menos importante, a ANPUH-BRASIL solidariza-se com estudantes e trabalhadores que em nome do direito de frequentar a praça que é do povo e fazer dela espaço de expressão de seus anseios, foram reprimidos pelas forças públicas que, ao contrário, têm a obrigação de protegê-los. Foi desta forma que se construiu a democracia. Na rua, à moda plebeia.
Que esses movimentos possam retomar e radicalizar a antiga, mas não inatual, bandeira dos revolucionários de 1789: “Igualdade, liberdade e fraternidade”!
ANPUH - BRASIL
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